Lendas da Selecção (Parte VI)

Em dia de jogo de apuramento, queria deixar a minha homenagem a um enorme jogador, que no Benfica e na Selecção Nacional muitas alegria deu aos adeptos. Neste momento passa por uma fase difícil da sua vida, daí querer aproveitar este dia que espero seja de alegria para todos os portugueses, para homenagear o "Bom Gigante".
Como sempre retirado do site da FPF:


JOSÉ TORRES 1938-…
Os sonhos de «Lagardére», o «Bom Gigante»

Nome: José Augusto da Costa Sénica Torres
Data de nascimento: 8-9-1938
Naturalidade: Torres Novas
Posição: avançado centro
Clubes principais: Benfica, V. Setúbal e Estoril
Jogos pela Selecção Nacional: 33/14 golos
Estreia: 23-1-1963, em Roma, frente à Bulgária (0-1)
Último jogo: 13-10-1973, em Lisboa, frente à Bulgária (2-2)

Talvez seja esse o destino dos jogadores grandes, desengonçados. Um destino de críticas, de dúvidas, de relações constantes de amor-ódio com os adeptos. José Torres, o «Bom Gigante», chegou ao Benfica vindo do Torres Novas onde dava nas vistas pelo seu bom jogo de cabeça e pela facilidade que tinha em marcar golos. Estávamos em 1959, e a sombra de José Águas tapava o sol do jovem José Torres. Como taparia sempre, mesmo depois do abandono do velho «capitão» do Benfica, tão inevitáveis foram sempre as comparações entre o estilo clássico e elegante do primeiro e o jeito meio trapalhão do segundo. Durante as primeiras três épocas de águia ao peito, José Torres ficou reduzido às reservas e a esporádicas presenças na equipa principal: ao todo 6 jogos e 6 golos marcados. Eficácia não lhe faltava. Tanto assim, que no primeiro ano de titular, foi o melhor marcador do Campeonato Nacional com 26 golos em 21 jogos. Mas o público continuava sem perceber como era possível jogar Torres e Águas ficar no banco. Fernando Riera, o treinador, sabia a resposta.

José Torres foi sempre um homem calmo, paciente. Não foi por acaso que ganhou a alcunha de «Bom Gigante», adaptada de uma figura famosa dos circos e feiras da América, um homem de poucas falas que tinha dois metros e muito de altura. O nome «Largardére» ser-lhe-ia posto no V. Setúbal, por José Maria Pedroto, numa altura da carreira em que saía do banco de suplentes para resolver jogos complicados à maneira de um mosqueteiro que chegasse atrasado à refrega com os soldados do cardeal.

«Largardére», o «Bom Gigante», alimentou sempre uma tristeza na vida: a de não ter sido campeão europeu pelo Benfica, a despeito de ter jogado três finais da Taça dos Campeões, coisa de que poucos jogadores se podem orgulhar. Fica-lhe como consolo um jogo lendário na final do Torneio Ramon Carranza, em Cádis, no tempo em que nele participavam sempre, além da equipa da casa, três das melhores equipas do Mundo. Nesse ano, depois de afastar o Real Madrid, o Benfica jogou a final com o Cádis. Torres saiu do banco quando a sua equipa perdia por 0-1; no final dos 90 minutos, havia 3-3; no final do prolongamento, 7-3: quatro golos do «Bom Gigante». «À fé de Largardére!»

Foi em Janeiro de 1963 que se estreou pela Selecção Nacional, num jogo de desempate para a fase de qualificação do Campeonato da Europa, frente à Bulgária. Portugal perdeu por 0-1, mas Torres ganhou o seu espaço. Na qualificação para o Mundial de 1966, já era membro de pleno direito desse grupo que ficaria, em Inglaterra, conhecido como «Os Magriços». Na fase de preparação para esse Mundial, José Torres tem a fase mais profícua da sua presença na equipa nacional. Em quatro jogos consecutivos marca 7 golos – 1 em Glasgow à Escócia (1-0); 2 em Esbjerg, à Dinamarca (3-1); 3 em Lisboa, ao Uruguai (3-0); 1 no Porto, à Roménia (1-0) – somando mais dois contra a Hungria (3-1) e contra a Bulgária (3-0), já na fase de grupos, em Manchester. No jogo para os terceiro e quarto lugares, em Wembley, marca o golo mais significativo da história da Selecção Nacional até então: o segundo, que garantia a vitória (2-1) frente à URSS, e a melhor classificação de sempre de Portugal num Campeonato do Mundo.

José Torres teve uma carreira longa. Ao fim de doze anos na Luz, é envolvido no negócio Vítor Baptista, e transfere-se para Setúbal e para o Vitória de José Maria Pedroto. Terá três épocas excepcionais. O V. Setúbal luta pelo título, termina duas vezes em 3º lugar e uma em 2º, dá cartas na Taça UEFA eliminando equipas como o Liverpool, o Leeds ou o Inter. Aos 37 anos ainda se sente em condições para jogar no Estoril-Praia e faz cinco épocas, duas delas como treinador-jogador. Abandonou os relvados aos 42 anos. Foi treinador do Estrela da Amadora e do Varzim e assumiu, em 1984, o cargo de Seleccionador Nacional. Na véspera do encontro decisivo, em Estugarda, contra a RFA, que Portugal precisava de vencer, pediu: «Deixem-me sonhar…» O sonho tornou-se realidade: Portugal venceu por 1-0 e, 20 anos depois, atingia nova fase final de um Campeonato do Mundo.

José Torres teve tudo para ser personagem de romance. E foi-o, de certa forma. Basta ler estas linhas de «A Cabeça Perdida de Damasceno Monteiro», de António Tabucchi : « Desejou bons dias e pôs-se a andar. Firmino ficou a vê-lo afastar-se. Era baixinho, com um tronco grande de mais para umas pernas muito curtas. Curiosamente lembrou-se de um outro Torres. Mas a esse, nunca o conhecera, só o vira em imagens da época, na televisão. Era um Torres muito alto, que fora o ídolo do seu pai, o Torres que jogava como avançado-centro no Benfica dos anos-Sessenta. Não sabia jogar, dizia-lhe o pai, mas bastava-lhe esticar a cabeça e zás, a bola entrava na baliza sozinha»

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